quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sem armas, enfim

Aguarde o tempo que for, mas não espere tanto.
Quem muito espera conhece suas esperanças, mas não a realidade; quem muito espera não conhece o outro, e sim, quer reconhecer no outro o que tanto espera, quer reconhecer na vida a felicidade como sonha...
Sonhar também é viver, mas sonhar demais é risco de esquecer de viver e esperar que suas esperanças se concretizem como elas são. E nunca serão!
Porque esperar tanto? O melhor da vida é se surpreender!
Jamais se conhece algo enquanto se anda de mãos dadas com os próprios conceitos, enquanto o que se acha e o que se idealiza não deixa ver o que se pode conhecer, talvez até melhor que sua limitada visão possa esperar.
Não se abandonar é, na verdade, ter a visão que satisfaz. Verás como queres ver...
Inútil querer que tudo seja cem por cento como esperamos. Ninguém é perfeito, nada nem ninguém é igual à nossa imaginação, as coisas não acontecem da mesma forma sempre.
Vivo querendo aprender a não esperar nada... mergulhar com a inocência e incompletude de uma criança.
Lançar-se ao desconhecido sem tentar conhecê-lo antes pelo próprio pensar esperando reconhecê-lo depois. Sem armas, enfim.
A gente espera tanta coisa das coisas, das situações, das pessoas e a gente se esquece que nós somos nosso padrão e que nem sempre as coisas corresponderão à ele. E, sinceramente, não é preciso.
Nossos anseios são, muitas vezes, mentiras que nós mesmos nos contamos.
Espere da vida o ela tem pra te dar, não o que você quer que ela te dê, senão, de fato, serás sempre um insatisfeito.

Kadu Oliveira

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O que é perder alguém?

Dor complicada de sentir...
parece que não dói de forma normal...
Dor seca, dor sem cura.
A culpa de, talvez, nunca ter podido dizer de forma suficiente o quanto amávamos, a dor de não termos podido dizer adeus.
Não há palavra que console, não há palavra que baste...
Mesmo que faça tempo, mesmo que já falhe a memória. Aquele colo que nos fazia mais capaz ficará marcado, aquele beijo, aquele amor.
Sim, o amor jamais acaba...
Amar quem se foi é amar os que ainda estão conosco da melhor forma que podemos, é reconhecer nos gestos dos que amamos aqui, o carinho dos que reencontraremos um dia.
Guardarei os bons momentos, terei em meu coração a certeza de que sempre estarão comigo...
"Eu os trago em meu peito por amor e por direito, mesmo que vocês jamais saibam o preço deste amor."

A todos os que deixaram eternas saudades em nossos corações...

Kadu Oliveira


"Lembro de nós dois
Sorrindo na escada aqui
Estava tudo tão bem
E de repente acabou

Vozes no portão
Passos no saguão
Poderia ser você
Mas faz tempo que partiu

Deixou algo aqui, e pouco a pouco encontro seus sinais

Menos de um segundo e eu já perco o ar
Quase um minuto, quero te encontrar
É um sentimento que preciso controlar
Porque você se foi
Não está aqui

Tudo que ficou
Mexe com meu interior
Isso afeta meus sentidos
Foi o seu cheiro que sumiu

Tudo acabou, interrompeu-se tudo que existiu

Partiu num dia qualquer
Sem ao menos dizer adeus
E o que ficou?
Um coração que sofre
Como quem espera a próxima entrada da estação
E o que separa o frio do calor
É a emoção de saber que vou
Poder te reencontrar um dia
Eternamente te encontrar
Eternamente encontrar você"

Guilherme de Sá

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Calçadas

Calçadas habitadas, marcadas. Calçadas sem oportunidades. Calçadas que só têm meus passos e minha pressa.
Já me acostumei com seu jeito, para as calçadas eu viro a cara, tapo o nariz, finjo que não vejo.


Ate quando vou ignorar esse chão tomado?
Ate quando vou ajudar a abafar essa voz que grita?
Grita socorro, grita frio, grita fome.


"Tão vendendo ingresso pra ver nêgo morrer no osso" sucesso de bilheteria... eu compro, você também!
Eu logo penso "Vou fechar a janela pra ver se não ouço as mazelas dos outros".
Ingenuidade. Talvez um dia, todos viremos uma grande calçada, onde grandes soberbos, fieis capitalistas, que querem mais é dinheiro (que amor sincero que nada!) pisem, cuspam, virem a cara. Afinal, é bom mais vozes ignoradas na calçada, mais chão pra pisar, mais dinheiro pra sobrar. "Perdeu-se a moral e reina a falta de vergonha. Mania nacional é ver o outro se dar mal..." Dá dinheiro, dá ibope!
E eu continuo correndo, já nem sei pra que eu corro tanto... "O ano inteiro eu corro atrás, não sei de quê exatamente". E as calçadas continuam lá... gritando num silencio que dói...


"Quero justiça, alegria e quero paz,
Mas com direitos iguais, como já disse Tosh
E quero mais que um milhão de amigos do RC
Ser como Luís e suas maravilhas do mundo quero comer!
Quero me esconder debaixo da saia da minha amada
Como Martinho da Vila, em ancestral batucada
Eu quero é botar meu bloco na rua, qual Sampaio
Quero o sossego de Tim Maia olhando um céu azul de maio
Eu quero é mel, como cantou Melodia
Quero enrolar-me em teus cabelos
Como disse Wando à moça um dia
Quero ficar no teu corpo, como Chico em Tatuagem
E quero morrer com os bambas de Ataulfo bem mais tarde
Só que bem mais tarde
Eu quero ir pra ver Irene rir, como escreveu Veloso!"

Mas quero poder ver o sorriso no rosto de quem só conhece as lágrimas...
...E calçadas... somente as de concreto.


Kadu Oliveira

Citações da canção "No Braseiro" de Pedro Luis.




sábado, 9 de outubro de 2010

Fila nos banheiros públicos

(Eu sei, não sou humorista...)


- Calma galera, vamos ter paciência, vai chegar a vez de todo mundo!

- E o tal desenvolvimento sustentável que eles tanto falam?

- Isso é pura historinha! Olha aí!

- Dá pra andar mais rápido, meu filho?! To apertado!

- Ninguém pensou na gente!

- E nós que somos os melhores amigos...

- Acabeeei!

- Próximo!


Kadu Oliveira

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Vamos de hipocrisia então?

Na verdade, pode ser que hoje nada aqui faça muito sentido ou tenha alguma coerência pra alguém... Nem é pra ter... O que vemos diariamente não tem um pingo de sentido mesmo.
Não quero ser hipócrita a ponto de dizer que acredito em tudo, nem mentiroso dizendo que não creio em nada. Fechar os olhos e aplaudir tudo o que me dizem... Está aí uma boa situação para chamar de pecado. Prefiro viver entre esse tudo e esse nada, nem em um, nem em outro, por apenas enxergar. Está difícil entender? E eu com isso... Existem os que o farão muito bem!
Repugnante doença disseminada essa tal hipocrisia. O verdadeiro mal do século, eu diria.
Alguém tem peneirado de menos seus conceitos. Mostrado pouco ou nada do que realmente é.
O mais curioso é encontrar muitos por aí se achando capazes de dizer o que é certo ou errado. Ousaria mais: disfarçando pura podridão com a cara santa da dignidade. Quem é digno? Espera aí, isso não é trabalho de Deus?
Estranhamente se confunde consciência e obrigação.
Caridade? Pensar no outro? Pensar no mundo que afunda a cada dia no estrume de uma raça suja? Faz quem quer, quem acha que deve... Ah, deixa pra depois...
Agora, escuta aqui! Você não pode fazer isso não! Você ta errado, hein!
Quantos dedos apontados... Faça algo de bom, infeliz! Você nem sequer terá apoio. Não que precise, mas tenta fazer o que julgam ser ruim... Cuidado com as pedras, Madalena!
E os dias passam com tanta gente se culpando...
Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela pensando no que não importa de verdade. Sendo o que não somos. Tomando partido do que nem concordamos...
Francamente...
"Verás que tem menos anos do que contas. Perscruta a tua memória: quando atingiste um objetivo? Quantas vezes o dia transcorreu como planejado? Quando usaste teu tempo contigo mesmo? Quando mantiveste uma boa aparência, o espírito tranquilo? Quantas obras fizeste com um tempo tão longo? Quantos não esbanjaram a tua vida sem que notasses o que estavas perdendo? O quanto da tua existência não foi retirado pelos sofrimentos desnecessários, paixões ávidas, conversas inúteis, e quão pouco te restou do que era teu? Compreenderás que morres cedo. (...) Temes todas as coisas como os mortais, desejas outras tantas tal qual os imortais. Ouvirás a maioria dizendo: 'Aos cinquenta anos me dedicarei ao ócio. Aos sessenta, ficarei livre de todos os meus encargos'. Que certeza tens de que há uma vida tão longa? O que garante que as coisas se darão como dispões? Não te envergonhas de destinar para ti somente resquícios da vida e reservar para a meditação apenas a idade que já não é produtiva? Não é tarde demais para começar a viver, quando já é tempo de desistir de fazê-lo? Que tolice dos mortais a de adiar para o quinquagésimo e sexagésimo anos as sábias decisões e, a partir daí, onde poucos chegam, mostrar desejo de começar a viver..." (Sêneca)
Viver é estar bem consigo mesmo, estar de pleno acordo com o que realmente é.
Limparemos a cara ou vamos de hipocrisia então?
Vamos sentar e esperar o fim da vida para que, aí sim, nos demos conta de que o que somos e fazemos já não tem nada de nós.

Kadu Oliveira

sábado, 21 de agosto de 2010

A cada dez anos um grande Homem

Hoje farei diferente e, excepcionalmente, não publicarei um texto próprio.
Resolvi postar uma pequena obra do grande Bertold Brecht, que essa semana me marcou muito com sua poesia. Aos que já conhecem esse fabuloso texto, sem dúvida, vale à pena rever; aos que não conhecem, bem vindos à oportunidade de conhecer as “PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ”!

"Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia varias vezes destruída
Quem a reconstruiu tanta vezes?
Em que casas da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que
a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma esta cheia de arcos do triunfo
Quem os ergueu?
Sobre quem triumfaram os Cesares?
A decantada Bizancio
Tinha somente palácios para os seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu alem dele?

Cada pagina uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?

Tantas histórias.
Tantas questões."
(Bertold Brecht)

Kadu Oliveira

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Talvez o começo da loucura

Dias de silêncio, dias de silêncio só
Dias vagos, dias vagando
E a motivação, cadê?
Só sei que perdi por aí. Agora, onde? Vai saber...
No vazio lá fora, no vazio aqui dentro
Sento, leio, ando, grito
Grito pro nada, grito pra nada, grito já nem sei por quê
(sem fôlego) Grito sem voz...
Ah, esse tédio que me enlouquece, essa monotonia que me queima a pele.
Queima mesmo, sem figuração. Silêncio somatizado.
Sigo ardendo em pressa
Pressa em ver as feiras pelas costas,
Somente no seu fim poderei sentir
Quero sua morte pra que eu me tenha vivo outra vez!
Corram dias, voem horas
Tragam-me de volta a voz...
... de um fim pra descansar, enfim sem pressa.
Um fim de companhia, de amigos, de conversas repletas de bobeiras e sinceridade...
Diferençar tédio, monotonia e solidão?
Não sei. Ambos me tiram a paz.
Os maus silêncios da vida.

Kadu Oliveira